O presidente do Bradesco (BBDC4), Octavio de Lazari Junior, avaliou na sexta-feira (10), após a divulgação do balanço do quarto trimestre de 2022 (4T22) do banco, que possivelmente a instituição se precipitou na concessão de crédito. Diante da alta dos juros e da inflação no ano passado, os calotes subiram rapidamente.

“Na pandemia, a taxa de juros não condizia com o país”, disse o CEO do Bradesco. “Em função disso, talvez tenhamos concedido mais crédito do que deveríamos.”

No ano passado, o Bradesco teve lucro de R$ 20,7 bilhões, uma queda de 21,1% em relação a 2021, explicada principalmente pelos provisionamentos contra a inadimplência – incluindo as possíveis perdas com a Americanas (AMER3).

“Provisionamos integralmente a exposição de um cliente de atacado. Provisionamos no quarto trimestre de 2022 por governança, embora o evento tenha sido posterior”, afirmou Lazari, em entrevista coletiva para comentar os resultados do banco. Por sigilo bancário, os bancos não têm citado nominalmente a Americanas.

Inadimplência preocupa e Bradesco adota mudanças

Segundo o presidente da instituição, o Bradesco revisitou o apetite de risco, o que deve reduzir as provisões contra a inadimplência no segundo semestre deste ano. “O principal aumento em 2023 virá do aumento das provisões”, comentou Lazari.

O presidente do Bradesco afirmou, ainda, que no atacado não deve haver um crescimento forte nas provisões, mas sim menores reversões de provisão em lucro: “Deveríamos ter restringido o apetite antes. De todo modo é um aprendizado.”

Segundo ele, o banco já reduziu de forma relevante a tomada de riscos no segmento de pequenas e médias empresas, um dos que tiveram uma aceleração da inadimplência ao longo do ano passado. O mesmo tem acontecido em cartões de crédito, afirmou.

“Em PMEs, já reduzimos sensivelmente o apetite a risco”, afirmou. “O crescimento anual em cartões é forte, mas já mostra uma desaceleração.” De acordo com ele, se trata de um “ajuste de rota”, com o Bradesco direcionando esforços tanto para segmentos de clientes quanto para produtos de menor risco.

Lazari disse que o banco está com provisões suficientes para cobrir os casos de empresas de grande porte que têm mostrado dificuldades para pagar as dívidas. Sem citar nomes, ele disse que o banco não vê o cenário com preocupação.

“Estamos com provisões adequadas para as empresas que estão no noticiário”, disse. No quarto trimestre, o Bradesco provisionou 100% de sua exposição à Americanas, de R$ 4,9 bilhões, o que derrubou seu resultado em mais de 75% no comparativo anual. “Temos um balanço bem provisionado, são quase R$ 58 bilhões em provisões.”

Sobre Americanas (AMER): ‘fraude, caso pontual; fomos surpreendidos’

Sem citar a Americanas nominalmente, Lazari disse que o caso foi uma fraude, e que é algo pontual. De acordo com ele, o banco não mudou as condições de contratação do chamado risco sacado, operação que está no centro do rombo contábil que levou a empresa à recuperação judicial.

“É um caso pontual, uma fraude”, afirmou. “O risco sacado não traz inadimplência. Quando o caso aconteceu, fomos revisar todas as operações.”

Segundo ele, o banco não encontrou situações de fragilidade nesse processo. “Não mudamos o spread do risco sacado pelo caso específico”, disse.

O executivo do Bradesco pontuou ainda que o caso foi inesperado, dado o histórico da companhia e de seus três sócios de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. “Fomos surpreendidos. Não só nós, como o mercado.”