Combinação de superávit da balança comercial e juros básicos altos fortalecem moeda brasileira. Nem mesmo os riscos políticos da campanha presidencial vão abalá-la. China é único motivo de preocupação.

(DW) A montanha-russa da cotação do real nos últimos meses chega a ser espetacular: desde o começo de 2022, ele se valorizou em até 22% em relação ao dólar e ao euro. Nenhuma outra moeda, em todo o mundo, cresceu tanto no ano corrente. Agora, porém, ele caiu 3%, 4% no prazo de poucos dias.

Observando-se a curva da cotação num período um pouco mais amplo, é possível interpretar a valorização como uma correção das grandes perdas desde o começo de 2020: com o começo da pandemia de covid-19, em cerca de um ano o real caiu quase 50% em relação ao dólar-euro.

Para onde vai agora a moeda brasileira? – é a pergunta que ocupa atualmente os mercados financeiros. A meteórica valorização desde o começo do ano pegou de surpresa quase todos os bancos de investimentos. Mas a posteriori é fácil explicar a atual força do real.

O Banco Central do Brasil foi um dos primeiros a elevarem os juros, a fim de frear a inflação crescente. De 2% em 2021, a taxa de juros básica Selic já está em quase 13%. Isso torna atraentes os investimentos em real, pois as taxas da Europa e dos Estados Unidos seguem extremamente baixas. Assim, os investidores trocam dólares em reais, para lucrar com os juros.

Ao mesmo tempo, o país ganhou com a alta dos preços de matérias-primas. Seja milho, soja, minério de ferro ou petróleo, ele produz praticamente todos os produtos que encareceram grandemente desde o começo do ano, e mais ainda com a crise bélica na Ucrânia.

Nem insegurança política abalará o real

Assim, os bancos de investimentos atualmente contam para 2022 com um superávit da balança comercial – exportações menos importações – de cerca de US$ 80 bilhões, o dobro do ano anterior. Os exportadores investem esses dólares no Brasil, valorizando ainda mais o real.

Ainda um ano atrás, os exportadores e os investidores brasileiros preferiam deixar seu capital no exterior ou enviá-lo para lá, a fim de investi-lo nos mercados financeiros internacionais, já que no Brasil praticamente não havia juros. Agora, investidores de todo o mundo acorrem ao país, buscam alternativas de investimento num grande mercado bem distante do conflito na Europa, pelo qual suas empresas tampouco são afetadas.

A economia fechada do Brasil – que em muitos aspectos prejudica o desenvolvimento econômico – revela-se no momento uma vantagem. Como a indústria é menos integrada às cadeias de agregação de valor internacionais, a produção não é tão afetada pela falta de componentes e peças quanto as indústrias europeias ou americanas.

Resumindo: tudo indica que, no médio prazo, o real continuará crescendo e manterá a força em relação ao dólar e ao euro. O maior obstáculo nesse sentido, no momento atual, poderia ser a China: caso Pequim siga reagindo à pandemia no país com confinamentos radicais, o crescimento poderia sofrer e comprometer o papel dos chineses como fornecedores do mercado mundial.

Aliás, a súbita debilitação do real nos últimos tempos talvez se deve, sobretudo, ao “efeito China”. Por outro lado, a provavelmente explosiva campanha eleitoral brasileira dos próximos meses não deverá afetar o real praticamente. Nos bancos de investimentos, a opinião é unânime: a insegurança política do Brasil quanto ao próximo governo, apesar de aumentar a volatilidade da cotação, pouco mudará a tendência ascendente da moeda brasileira.

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