As ações da Americanas (BVMF:AMER3) lideravam as altas do Ibovespa na manhã desta terça-feira, 17, retomando gradualmente os preços após despencarem desde a última semana. Às 11h30 (de Brasília), os papéis subiam 12%, a R$2,19.

A volatilidade vem sendo intensa, diante de um dos maiores escândalos corporativos brasileiros, após a varejista encontrar “inconsistências contábeis” bilionárias e iniciar uma briga com credores. Na quinta, 12, as ações fecharam em baixa de 77,33% e, na sexta, 13, subiram 15,81%. Ontem, segunda-feira, 16, caíram novamente, com um recuo de 38,41%.

Na visão de Pedro Henrique Ricco, CEO da Delta Investor, a volatilidade deve continuar intensa no curto prazo, mas a precificação já atingiu, em maior parte, os ativos tanto em renda fixa quanto em renda variável, com debêntures pagando rendimentos mais expressivos.

Hoje, a companhia anunciou que deixou de pagar os juros referentes à 17ª emissão de debêntures, tornando o ativo inadimplente. O calote foi embasado pela decisão da 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que suspendeu a necessidade de pagamento de remuneração.

Enquanto a auditoria que apura o caso ocorre, o papel do Conselho da empresa, que conta com representantes de acionistas de referência, deve ser analisado. Com a crise, fornecedores de produtos do marketplace querem receber à vista e temem um recuo nas vendas, podendo priorizar outras concorrentes.

Tensão com credores

A temperatura aumentou após a tutela cautelar que suspende os vencimentos antecipados da varejista e o BTG (BVMF:BPAC11) entrou na Justiça buscando reverter a medida, mas não obteve êxito. Os bancos credores da Americanas não querem ser sócios da empresa nem dividir esse prejuízo, estimado em R$40 bilhões.

Os bancos mais expostos são Bradesco (BVMF:BBDC4), Santander, Itaú (BVMF:ITUB4), Safra e BTG. De acordo com analistas do JPMorgan (NYSE:JPM) e do Citi, o BTG tinha exposição de R$1,9 bilhão à varejista. Já o Bradesco tinha exposição de R$4,7 bilhões e o Santander Brasil (BVMF:SANB11) R$ 3,7 bilhões.  As instituições financeiras querem que os acionistas de referência capitalizem a companhia. Os advogados do BTG afirmam Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira teriam R$ 180 bilhões em patrimônio, o que seria suficiente para garantir as obrigações.

Ricco acredita que a empresa não deve pedir falência e avalia a conquista da medida judicial como uma postura protecionista e benéfica para a Americanas. O CEO da Delta Investor não vê má fé da empresa, como apontou o BTG. “Não há tempo para renegociação. Não vejo como postura oportunista da companhia, ela já se colocou à disposição para acertar tudo, mas acho que o timing é muito rápido. Ela possui muitos papéis no mercado, muitos investidores que não aceitam oscilação possuem debentures da Americanas, vimos isso na situação do Nubank (BVMF:NUBR33). Agora, o mercado precisa reprecificar as condições da companhia”, destaca.

Para Ricco, o posicionamento do BTG é obsoleto, pois em momentos mais acalorados, a companhia é executada.  “Não acho que vai vir um movimento em massa, como o BTG se colocou, que já abriu posição arbitral com a empresa. O Bradesco já veio a público com um tom brando, sem promessas. Acho que vai mais em linha da posição do Daycoval ontem e Bradesco de hoje do que um pleito dos bancos entrando com processos”, aponta.

Rebaixamentos

Diante dos maiores riscos de pagamento, governança e crise na credibilidade da administração, as agências de classificação de risco mudaram suas visões sobre a Americanas.  Moody’s, S&P e Fitch já rebaixaram suas notas para a varejista.

Ricco considera os movimentos prudentes. “Os números não mudam de uma hora para outra, na operação em si, mas todas as casas de classificação precisam entender as margens da companhia, todos estão tendo que rodar os modelos para dar a devida nota à empresa de forma mais prudente”, completa.